Vida e obra de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho

“O Aleijadinho” – tela de Elias Layon, 2015

1738- Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, nasceu a 29 de agosto, no Bom Sucesso, paróquia de Nossa Senhora da Conceição, Ouro Preto.Filho natural do mestre-arquiteto português Manuel Francisco Lisboa, natural de Lisboa, e uma escrava deste, Isabel.

1750- Freqüenta o internato do Seminário dos Franciscanos Donatos do Hospício da Terra Santa até 1759 (ou até 1762, segundo outros), em Ouro Preto, onde aprende Gramática, Latim, Matemática e Religião.Freqüenta os estaleiros das obras onde seu pai intervém, nomeadamente na Igreja de Antônio Dias e na Casa dos Contos, trabalhando com seu tio Antônio Francisco Pombal, também notável entalhador, e Francisco Xavier de Brito. Trabalha com José Coelho Noronha na obra da talha dos altares da Igreja matriz de Caeté, projeto de seu pai.

1752- Realiza, integrado na oficina paterna, o seu primeiro “projeto”, um desenho a sanguínea para o chafariz do pátio do Palácio dos Governadores, na Praça Tiradentes, em Ouro Preto.

1756- Desloca-se ao Rio de Janeiro, acompanhando Frei Lucas de Santa Clara que era transportador de “ouro e diamantes” que deveriam ser embarcados para o Reino, viagem determinante na evolução da sua linguagem artística, nomeadamente no campo da arquitetura

1758- Realiza o chafariz de pedra-sabão para o Hospício da terra Santa, primeira obra inserida na corrente do tardo-barroco de matriz tradicional.

1759- Deixa de freqüentar, hospício da Terra Santa e ocupa-se no reforço da aprendizagem e do lançamento,profissional, em tempo integral na profissão de marceneiro, entalhador, escultor e, mais tarde, de arquiteto.

1760- São-lhe atribuídos os altares da Igreja Nossa Senhora do Rosário, de Santa Rita Durão. Executa trabalho de talha nos retábulos do corpo da Igreja, da devoção de Santo Antônio e São Francisco de Paula e imagem de Sana Luzia, da Igreja Nossa Senhora do Bom Sucesso na cidade de Caeté.

1761- Executa obra do chafariz do Pissarão, situada no Alto da Cruz, perto da Igreja de Santa Efigênia.

1763- Realiza a primeira intervenção de características arquitetônicas; frontispício e as torres sineiras da Igreja matriz de São João Batista, em Morro Grande, hoje designado de Barão de Cocais. A imagem de São João Batista para o nicho da fachada e a cartela do fecho do arco-cruzeiro são, igualmente, da sua autoria.

1766- Realiza o projeto da Igreja de São Francisco de Assis, Ouro Preto, as imagens do frontispício e a fonte-lavabo da sacristia.

1767- Ano da morte de seu pai, Manuel Francisco Lisboa, aos 70 anos de idade, Aleijadinho não foi contemplado no seu testamento, somente os filhos legitimos de sua mulher.

1768- Alista-se no Regimento da Infantaria dos Homens Pardos de Ouro Preto. Durante três anos, presta serviço militar que conjuga com uma atividade profissional intensa. Recebe a encomenda de uma obra seminal, a execução da fachada principal da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, de Sabará.Realiza os púlpitos da Igreja São Francisco de Assis, de Ouro Preto.

1770- O projeto do Carmo, em Ouro Preto sofreu algumas alterações.
Reforça sua atuação no Carmo de Sabará. Organiza a sua oficina segundo o modelo das corporações de ofícios de origem medieval que virá a ser acolhido no regulamento de 1772, aprovado pela Câmara de Vila Rica. Dada a importância crescente do seu ateliê, passa a contratar diretamente as suas empreitadas, auferindo uma remuneração elevada pelos seus projetos.

1771- Executa as esculturas do portal da igreja e a fonte-lavabo da sacristia na igreja do Carmo, de Sabará, realizadas em pedra-sabão, com a parceria de Francisco Lima Cerqueira, terminadas em 1780. Volta a trabalhar no projeto da fachada do Carmo de Ouro Preto. Dá parecer sobre o desenho da fachada e da planta da Igreja de São Manoel do Rio da Pomba. Começa a esculpir os púlpitos de São Francisco de Assis, de Ouro Preto. Teria projetado a casa do Açougue Público de Ouro Preto. Intervem na obra de talha e de escultura em duas Igrejas de Ouro Preto – Nossa Senhora do Pilar e Nossa Senhora de Mercês e Perdões.

1772- Realiza o projeto de alterações na igreja São José dos Pardos, em Ouro Preto, para cuja Irmandade entra nesse ano e onde ascenderá a juiz, 6 anos depois. Termina a execução dos baixos-relevos escultóricos dos tambores dos púlpitos da igreja de São Francisco de Assis. Realiza o projeto, a pedido da Irmandade de São José, da capela-mor.

1773- Termina a grande participação nas obras da fachada da Igreja de Nossa Senhora do Carmo de Ouro Preto. Continua os trabalhos para São Francisco de Assis, Ouro Preto, capela-mor e retábulo.

1774- Recebe a encomenda do Projeto da igreja São Francisco de Assis de São João Del Rei onde se inclui o risco da portada principal, proposta que mereceu aprovação da Irmandade de Ordem Terceira, em colaboração com Francisco Lima Cerqueira. Realiza o projeto da igreja São José de Ouro Preto, no qual introduz, posteriormente, algumas alterações. Executa as esculturas e obras de reconstituição da fachada da Igreja do Carmo de Sabará.

1775- Recebe a encomenda do crucifixo da sacristia e das imagens de roca de São Raimundo e de São Pedro Nolasco, para a igreja das Mercês e Perdões, em Ouro Preto.

1776- Executa o portal da igreja de são Miguel das Almas e das frentes-lavabos das igrejas de Nossa Senhora do Carmo e de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, obras que viriam a terminar em 1780. O governador da Capitania de Minas, D. Antônio de Noronha, cumprindo instruções do vice-rei, o marquês do Lavradio, de 4 de março, invoca todos os pedreiros, carpinteiros, serralheiros e ferreiros para integrar as forças militares que se ocupariam da reconstrução de uma fortificação no Rio grande do Sul. Aleijadinho é convocado para esta missão, tendo-se deslocado ao Rio de Janeiro, mas acabou por ser desconvocado e regressou a Minas Gerais.

1777- No Rio de Janeiro procede, em instância judicial, ao averbamento da paternidade de um filho que se chamara, como o avô, Manuel Francisco Lisboa, tendo sido mãe a crioula Narciza Rodrigues da Conceição. Recomeça a obra da fonte-lavabo da sacristia da igreja de São Francisco de Assis, em Ouro preto, que será terminada em 1779/80. Detectada uma doença gravíssima degenerativa que lhe deforma o corpo e os membros e sobretudo as mãos, causando enorme sofrimento.

1778- Concretiza o programa decorativo interior em talha dourada da igreja de Nossa Senhora do Carmo de Sabará.

1779- Realiza as imagens de São João da Cruz Simão Stock; o risco das balaustradas, das cancelas e da teia; os dois púlpitos, o coro-alto, as colunas, as pilantras e os lambrequins. Integram a sua equipe os seguintes oficiais: José Rodrigues da Silva, Tomás José Velasco, Joaquim José da Silva e José Soares da Silva. A mesma equipe registra-se em diversas empreitadas, não só em Ouro Preto, como também em Congonhas do Campo, São João Del Rei, Mariana, Barão de Cocais e Caeté. Reformula o desenho do retábulo da capela-mor da igreja de São Francisco. Contrata a execução do balcão da igreja da Assunção de Nossa Senhora na cidade de Mariana, que vem a terminar em 1783.

1780- Finaliza o conjunto de talha, retábulos, púlpitos e coro da igreja de Nossa Senhora da Conceição em Jaguará, encomenda da Irmandade da Ordem Terceira do Carmo de Sabará (inaugurada em 1786) . Continua as intervenções nos portais da Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto e a Igreja de São João del Rei. Realiza obras pontuais em Barão De Cocais e em Mariana, e os trabalhos que restavam na igreja de Nossa Senhora do Carmo de Ouro Preto.

1781- Inicia a execução dos púlpitos, portal e pavimento das sepulturas na igreja de Nossa Senhora do Carmo de Sabará (concluídos no ano seguinte).

1785- Convocam-no para examinar as obras contratadas e executadas por Miguel Gonçalves de Oliveira na igreja matriz de São João batista, de Barão de Cocais.

1789- Executa o altar-mor da igreja de São José, obra que lhe foi encomendada pela Irmandade do Rosário dos Negros. Esculpe as pedras de ara da capela-mor da igreja de São Francisco de Assis.

1790- O designativo de Aleijadinho começa a lhe ser aplicado. A sua obra é elogiada no levantamento dos fatos notáveis ocorridos, ordenado pela Coroa em 1782 e efetuado pelo segundo vereador da Câmara da Cidade de Mariana, capitão Joaquim José da Silva.

1790-1794- Ocupa-se intensivamente do retábulo do altar-mor da igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto, com uma grande equipe de oficiais de talha- Henrique Gomes de Brito, Luiz Ferreira da Silva, Faustino da Silva Correia-, obra esta que é o coroamento da sua atividade de escultor e entalhador.
Realiza o projeto de dois altares da nave dedicados a São Lúcio e a Santa Boan (terminados mais tarde, em 1829, por Valentin Alves da Costa).

1794-1796- Dá por terminados os portais em pedra-sabão das fachadas das igrejas de Nossa Senhora do Carmo e de São Francisco de Assis, de São João del Rei.

1796-1799- Quando, em 1754, Feliciano Mendes, o minerador de origem portuguesa, se decide a erigir o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas do Campo, em cumprimento de uma promessa, empenha toda a sua fortuna pessoal nas obras, bem como se tornou um ativo recoletor de fundos para a maior grandiosidade para o santuário. Entre
1765 e 1790, intervêm no estaleiro os mais reputados artistas: Félix Teixeira e Francisco Vieira Servas- talha e escultura-, João Nepomuceno Correia e Castro e Bernardo Pires da Silva e, na ourivesaria, Felizardo Mendes. As imagens foram “encarnadas” pelo pintor Manuel da Costa Ataíde que se ocupou dos grupos da Ceia, Crucificação e Açoites. A capela que abriga a Última Ceia teria obtido a colaboração de Aleijadinho na sua composição e arranjo final. Foi no mandato do quinto ermitão, Vicente Freire de Andrade (1794-1809), que a decisão da encomenda e arrematação da obra pelo Aleijadinho foram tomadas.

1800-1805- Trabalha na execução das estátuas em pedra esteatita dos Profetas para as plataformas em socalco do adro do santuário de Congonhas do Campo, conjuntamente com os oficiais da equipe do seu ateliê, mestres canteiros Tomás da Maia e Antônio Gomes.

1804- Dá-se o risco e executa o trabalho de talha para a caixa do órgão da igreja de Bom Jesus de Matosinhos de Congonhas do Campo, tendo sido pago pela quantia de 80 oitavas de ouro.

1805- Recebe pagamento pelo seu desenho dos altares da ermida da fazenda de Jaguará (hoje em Nova Lima, sede da Mina do Morro Velho).

1806- Projeta o retábulo da capela-mor da igreja de Nossa Senhora do Carmo de Sabará. Trabalha na execução dos castiçais e relicários da banqueta do altar-mor da igreja do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas do Campo.

1807-1709- Adimite-se que a sua oficina tenha terminado a sua atividade por esta altura. Decorriam os trabalhos na igreja de Nossa Senhora Do Carmo de Ouro Preto, para onde projeta os retábulos da nave dedicados a São João Batista e Nossa Senhora da Piedade (1807), e intervém nos camarins e nos dosséis dos retábulos de Santa Luzia e de Santa Quitéria (1808-1809).

1810- Dá o risco para o projeto da nova fachada da igreja de São João del Rei, hoje Tiradentes, que substituía a anterior (levantada ainda durante a primeira metade do século XVII). Executa quatro pequenas cabeças de anjo, como reforço ornamental para o andor e oratório da sacristia da igreja de Nossa senhora do Pilar, Ouro Preto, encomenda da Irmandade de Santo Antônio.

1812-1813- Agrava-se seu estado de saúde e passa a depender mais do que o tratavam. Instala-se numa casa junto da igreja do Carmo de Ouro Preto, para supervisionar as obras que ai decorriam e que o seu discípulo Justino de Almeida executava. Aleijadinho perde completamente a visão e as capacidades motoras são quase nulas. Retorma à sua residência na rua Detrás de Antônio Dias (hoje demolida) e , algum tempo mais tarde, muda-se para a casa da nora.

1814- Morre a 18 de novembro de 1814, com a idade de 76 anos (segundo certidão de óbito, arquivada em Nossa Senhora da Conceição). Foi sepultado junto do altar de Nossa Senhora da Boa Morte daquela igreja.