Aniversario da Ordem Terceira de São Francisco de Assis da Cidade de Ouro Preto
11/01/2020Convite aos Paroquianos para a Posse Canônica do Reverendíssimo Senhor Padre Luiz Carlos Cesar Ferreira Carneiro
13/01/2020Para ficar marcado na história desta tricentenária Paróquia Nossa Senhora da Conceição, eu, Cônego Luiz Carlos Cesar Ferreira Carneiro, achei por bem redigir e publicar o seguinte artigo para conhecimento de todos os ouro-pretanos, especialmente os paroquianos da dita Paróquia, bem como de todos os historiadores e demais pesquisadores que se dispuserem a estudar a história desta, que é uma das mais antigas paróquias de Minas Gerais e detentora de um inestimável patrimônio material e de fé.
As linhas seguintes se propõem a explicar de maneira sucinta os mais relevantes fatos relacionados à reforma e restauração da Igreja Matriz de Antônio Dias, o Santuário de Nossa Senhora da Conceição, desde fevereiro de 2013, quando foi fechada em caráter emergencial, até janeiro de 2020, com o desenrolar dos trabalhos de restauração de seus belíssimos elementos artísticos.
Cônego Luiz Carlos Cesar Ferreira Carneiro
10 de janeiro de 2020 – Memória de São Gonçalo do Amarante
Breve notícia da restauração do Santuário Arquidiocesano de Nossa Senhora da Conceição, em Ouro Preto – MG
Fechamento da Igreja
Ao final do mês de janeiro de 2013, ao realizar-se as manutenções rotineiras nos telhados e outras estruturas físicas das centenárias igrejas da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Ouro Preto, constatou-se, pelos profissionais responsáveis por tal serviço, o estado de extrema precariedade do telhado da Matriz Santuário de Nossa Senhora da Conceição.
Diante da alarmante situação, a Paróquia providenciou imediatamente, às suas próprias custas, o trabalho da arquiteta e urbanista Paola de Macedo Gomes Dias Villas Bôas e do engenheiro civil Ney Nolasco Ribeiro, os quais realizaram um levantamento técnico, mais completo e detalhado da situação, e emitiram, em 30 de janeiro de 2013, um laudo técnico sobre as condições de conservação da mesma Matriz, no qual concluíram:
Assim indicamos a interdição da Matriz de Nossa Senhora da Conceição
em caráter de urgência, para evitar danos à vida de fiéis e visitantes,
como também a execução de obras emergenciais de escoramento
para impedir que sejam perdidos elementos importantes para a
preservação desse bem de inestimável valor cultural.
(VILLAS BÔAS; RIBEIRO, 2013)
Para elaborar tal relatório, os profissionais já citados, percorreram o telhado do Santuário, em companhia do carpinteiro Paulo José de Paula, e identificaram a aceleração da deterioração da estrutura do telhado, num curto período de tempo, comparando-se com a situação do mesmo no ano de 2010. Ademais, algumas peças principais da estrutura do telhado da nave encontravam-se rompidas e outras em estado de conservação considerado muito ruim, apodrecidas e atacadas por insetos xilófagos (cupins). Os profissionais ressaltaram a possibilidade de descolamento completo e desabamento de toda a estrutura, bem como as consequências que esse mau estado de conservação já estava acarretado a outras estruturas integradas da igreja, como a movimentação de elementos construtivos e artísticos, tais como paredes e altares laterais da nave e dos dois grandes anjos da capela-mor.
De posse do relatório, datado de 30 de janeiro daquele ano, a Paróquia, já no dia seguinte ao recebimento do laudo técnico, deu ciência do mesmo ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, através de ofício encaminhado ao seu Escritório Técnico em Ouro Preto, por meio do qual solicitava uma visita técnica, para tomada de decisões necessárias, com a urgência que o caso inspirava.
A partir da segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013, o pároco, Padre Luiz Carlos Cesar Ferreira Carneiro, embasado no laudo técnico e na visita realizada pelo IPHAN, tendo comunicado à Arquidiocese de Mariana, através de seu arcebispo metropolitano, à época Dom Geraldo Lyrio Rocha, e tendo este concordado, resolveu acatar a indicação dos profissionais responsáveis e fechar o Santuário de Nossa Senhora da Conceição por tempo indeterminado, até a sua completa restauração, a fim de evitar maiores problemas, que poderiam até mesmo acarretar em uma tragédia, com o desmoronamento do telhado, em parte ou como todo, sobre os fiéis ali reunidos para algum ato religioso ou sobre turistas visitando aquela igreja, marco importantíssimo do barroco brasileiro, a qual guarda os restos mortais de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
A título de informação e nota histórica, cabe informar que esta não foi a primeira vez em que a dita Matriz teve de ser interditada às pressas. No ano de 1868, o engenheiro da Província de Minas Gerais, Martinianno da Fonseca Reis Brandão, em ofício de 28 de janeiro daquele ano, achou prudente mandar fechar as portas do templo com a máxima urgência para os consertos que nela se faziam necessários. A 30 de janeiro daquele ano — curiosamente mesmo dia em que se datou o laudo técnico de 2013 recomendando novo fechamento — o dito engenheiro, o pároco e os membros da Irmandade do Santíssimo Sacramento se reuniram e decidiram acatar a orientação de fechar imediatamente a Matriz de Antônio Dias, como se lê no Livro de Termos da Irmandade do Santíssimo Sacramento (4.1.1), às folhas 66v e 67. Pelos dados do mesmo livro estima-se que a interdição perdurou por cerca de cinco anos.
Repercussão e primeiras consequências do fechamento da igreja
A notícia do fechamento de tão importante templo barroco, no contexto do centro histórico de Ouro Preto, logo ganhou grande repercussão na mídia local, estadual e nacional, sendo o fato noticiado em jornais e telejornais de grande circulação e audiência.
Em 16 de abril do mesmo ano, o jornal Folha de São Paulo, publicou matéria noticiando o fechamento do Santuário e expondo os motivos da decisão tomada pelo pároco e ratificada pelo IPHAN. No entanto, a mesma matéria citava o principal entrave para o início imediato das obras: o valor de R$ 6 milhões (seis milhões de reais) para a execução do escoramento e intervenção de urgência. À época o IPHAN informou que o projeto de restauração do templo estava em análise pela comissão do PAC Cidades Históricas, sem, contudo, uma data para a conclusão da análise. A Prefeitura, também àquela época informou que havia cumprido os trâmites exigidos pelo Governo no que se referia à situação.
Imediatamente após o fechamento do Santuário, as atividades religiosas passaram a ser realizadas nas demais igrejas pertencentes à Paróquia Nossa Senhora da Conceição, a saber: igreja de São Francisco de Assis, igreja de Nossa Senhora das Dores, igreja de Nossa Senhora Aparecida e igreja de Nossa Senhora das Mercês e Perdões, a qual também se encontrava fechada para restauro, porém em fase final, e foi reaberta em novembro daquele mesmo ano. Além dos espaços que dispunha, foi feita uma ampla adequação do salão paroquial, ao lado do Santuário, o qual passou a denominar-se “Espaço Celebrativo”, de maneira a atender também o serviço litúrgico e religioso da Paróquia durante todo o tempo necessário, enquanto o Santuário estivesse em restauração. Foram retiradas as divisórias e preparados os lugares da sacristia e do presbitério, readequada a iluminação e a ventilação e transportados para lá todos os bancos do Santuário, a fim de acomodarem os fiéis durante as cerimonias.
Quanto às peças que compunham a exposição permanente do Museu Aleijadinho, fundado em 1968 e desde então funcionando em três ambientes no fundo da igreja — cripta, sacristia e consistório —, estas foram removidas para local adequado, higienizadas e acondicionadas pelos profissionais do mesmo Museu. Algumas delas foram transportadas com segurança para a sacristia da igreja de São Francisco de Assis, onde se organizou uma sala de exposição com a finalidade de garantir a visitação e o respeito aos numerosos turistas que acorrem a Ouro Preto para conhecer um pouco da história do Brasil, contada por este vasto acervo cultural. Juntamente com essas obras, as peças de uso litúrgico e/ou devocional, que se encontravam nos diversos ambientes da igreja Matriz foram também acondicionadas em local adequado, evitando sua deterioração ainda maior, decorrente do fechamento da igreja.
Primeiras reuniões com o poder público para tratar das obras emergenciais
Passados dois meses do fechamento do Santuário, no dia 16 de abril, a presidente do IPHAN, Jurema Machado, determinou que as intervenções necessárias à garantia da estabilidade da igreja fossem realizadas de imediato com recursos do orçamento ordinário.
Dois dias depois, em 18 de abril, reuniram-se o pároco, Padre Luiz Carneiro, o chefe do Escritório Técnico do IPHAN em Ouro Preto, João Carlos Cruz de Oliveira, a secretária estadual de Cultura de Minas Gerais, Eliane Parreiras, o secretário municipal de Cultura e Patrimônio de Ouro Preto, José Alberto Pinheiro, e a presidente da Fundação de Arte de Ouro Preto – FAOP, Ana Pacheco, para tratarem de assuntos relacionados às obras emergenciais da igreja.
Ficou acertado que dentro de cerca de 30 dias seria executado o projeto de escoramento da parte interna da igreja, onde o forro, os altares e as paredes apresentam trincas, e que a estimativa de tempo para um restauro completo seria de 24 meses. Na ocasião, a Secretária Estadual de Cultura posicionou-se a favor do fechamento da igreja, como medida de segurança e ressaltou que a intervenção do Governo do Estado de Minas Gerais foi no sentido de ser interlocutor na tentativa de solucionar o problema. Ainda na reunião, os secretários estadual e municipal de cultura dispuseram-se a empreender todos os esforços para viabilizar complementações orçamentárias, caso os recursos liberados pelo PAC não fossem suficientes para a obra em questão.
Reações de algumas pessoas ao fechamento da igreja
Entretanto, apesar dos notórios e conhecidos esforços de todos os lados, tanto da autoridade religiosa — Paróquia e Arquidiocese de Mariana — quanto do poder público em todas as suas esferas, não faltaram pessoas de má fé e pouco conhecimento incitar a incompreensão de significativa parcela da população, principalmente do bairro Antônio Dias. Essa incompreensão gerou manifestações de repúdio ao fechamento da igreja, porém nenhuma atitude concreta para, pelo menos ajudar na solução do problema, foi apresentada quer à Paróquia quer às autoridades constituídas. Enquanto os paroquianos, assíduos frequentadores do templo e que sempre tiveram suas relações afetivas e culturais ligadas a ele, permanecia em apoio às medidas que vinham sendo tomadas, alguns outros, sobretudo comerciantes insatisfeitos com a queda no número de turistas que visitavam o bairro, promoviam inverdades e “achismos” a cerca da restauração do Santuário, sem considerar o risco que era manter o funcionamento da igreja em tamanha precariedade. A demora dos prazos necessários para execução das obras ia fomentando ainda mais essa situação. Porém, com o passar o tempo e a tomada de consciência por parte de muitas dessas pessoas, a respeito da necessidade de tudo o que se estava fazendo, e a constatação da premente necessidade de restauração estrutural da igreja matriz, essa situação foi sendo contornada, até restarem alguns poucos que insistiam em sua ignorância.
Edital e início das obras estruturais do Santuário
Em 14 de novembro de 2013, ao noticiar as comemorações do bicentenário da morte do Aleijadinho, o jornal “Estado de Minas” publicou matéria intitulada “Uma chaga no patrimônio”, na qual lamentava os atrasos na execução do projeto de restauração emergencial do Santuário, onde está sepultado o corpo do artista, patrono das artes no Brasil. Até aquela data nem mesmo o escoramento interno que havia sido acordado em abril para ser executado em prazo máximo de 30 dias havia acontecido. Àquela época houve nova promessa, por parte do IPHAN, de que as obras teriam início em janeiro de 2014, com recursos da ordem de R$ 6,5 milhões (seis milhões e meio de reais) do PAC, administrados pelo IPHAN, que também é responsável pelo imóvel, tombado por lei federal de 1939.
Depois de reestruturar todo o projeto de restauro, compatibilizando-o às realidades atuais, tanto no que se refere, por exemplo, a planilha orçamentária quanto a materiais que nele constavam e saíram de fabricação, em janeiro de 2014, o IPHAN se pronunciou sobre o edital de licitação para a execução das obras de restauração do Santuário de Nossa Senhora da Conceição. Segundo o chefe do Escritório Técnico de Ouro Preto, em 12 de dezembro de 2013, o projeto executivo fora aprovado em Brasília, no valor de R$ 6,5 milhões (seis milhões e meio de reais), com previsão de 18 meses de obras, somente da parte estrutural da igreja, abonando-se assim a ideia inicial de escoramento interno da igreja, o qual nem chegou a ser feito.
As obras iniciaram-se em outubro de 2014, tendo sido contratada a Construtora Ambiental Ltda. para o serviço de restauração arquitetônica, recuperação e toda a cobertura, abrangendo tanto a estrutura quanto as telhas. Telhas essas que antes eram de tamanhos diversos e disformes, o que provoca vazamentos e comprometia a estrutura com o passar dos anos. Com aprovação do IPHAN, foram colocadas telhas novas e simétricas e estendida sobre todo o telhado da igreja uma manta aluminizada para evitar vazamentos. Também fizeram parte da obra no telhado, a revisão dos arremates e beirais, a reconstituição as cimalhas externas e a imunização de todo o madeiramento, sendo, obviamente, substituídas todas as peças danificadas.
Os elementos artísticos do interior do Santuário, sobretudo os mais sensíveis, foram protegidos para evitar danos, a cantaria foi toda higienizada, o reboco interno e externo foi recomposto, seguindo padrões do IPHAN para os bens setecentistas, foram revistos todos os elementos da portas e janelas e os barrotes de sustentação do assoalho e do forro não artístico. Os óculos e seteiras foram vedados com esquadrias de vidro e removeu-se camadas de cera sucessivamente aplicadas sobre tabuados e tijoleiras ao longo dos anos. Por fim, toda a parte elétrica foi completamente refeita, de acordo com minuciosos padrões de qualidade e normas de segurança.
Projeto de prevenção e combate a incêndio e pânico
Concomitante à restauração estrutural da igreja, desenvolveu-se também o projeto de prevenção e combate a incêndio e pânico, com a instalação de todas as estruturas necessárias no interior e exterior da igreja, com destaque para a construção de um grande reservatório de água no jardim do Santuário, com seus respectivos hidrantes, para utilização imediata e prática em caso de qualquer ocorrência de tal natureza.
Princípio de incêndio nas obras do Santuário
No dia 22 de maio de 2015, por volta das 22 horas, moradores da vizinhança do Santuário avistaram fumaça subindo de uma de suas torres e, de imediato, avisaram os bombeiros e a Paróquia. Foram os bombeiros, em ação rápida, que identificaram o foco do princípio de incêndio e controlaram-no utilizando extintores já presentes no próprio templo. Na manhã do dia seguinte o mesmo foco de incêndio voltou a ativa, e foi, dessa vez sim, controlado em definitivo pelos bombeiros. A perícia da Polícia Civil concluiu que uma máquina de solda foi a causadora da fatalidade, porém não houve maiores danos ao templo ou a qualquer uma de suas peças.
Pintura externa e resgate das cores originais da fachada
Com a continuidade das obras de restauração da estrutura física do Santuário, na segunda metade de 2016, chegou-se o ponto da pintura externa, a qual revelou uma das maiores surpresas de todo o processo de restauração: a devolução das cores originais à fachada da igreja. Depois de minuciosa pesquisa técnica, por meio de prospecções realizadas por profissionais competentes, e de consultas a moradores mais antigos do bairro Antônio Dias, o IPHAN e a Paróquia chegaram a conclusão de que o tom amarelo-ocre era o original da fachada da Matriz de Antônio Dias, como é comum em construções contemporâneas a ela. Nas décadas de 60 e 70 fora aplicado sobre as cores originais um avermelhado, estranho às características do barroco, mas que acabou permanecendo por muitos anos e, portanto, sendo tomado como original pelos moradores mais novos. A mudança mereceu destaque na capa do Jornal “Estado de Minas”, em edição de 28 de janeiro de 2017. A matéria relacionada, na mesma edição, trazia depoimentos de moradores a respeito da nova cor da Matriz, mostrando-se favoráveis e satisfeitos com o andamento das obras, e a informação dada pela superintendente do IPHAN em Minas Gerais, de que, tão logo fossem concluídas as obras estruturais, teriam início os serviços de restauração dos elementos artísticos, porém sem data pré-determinada.
Encontro entre o pároco e a presidente do IPHAN
Com as obras estruturais concluídas, em 13 de abril de 2017, a presidente nacional do IPHAN, Kátia Bogéa, esteve em visita à cidade de Ouro Preto, ocasião em que esteve no Santuário de Nossa Senhora da Conceição, em companhia do prefeito municipal, Júlio Pimenta, e do secretário municipal de Cultura e Patrimônio, Zaqueu Astoni. A comitiva foi recebida pelo pároco, Cônego Luiz Carneiro, dentro do próprio Santuário, para que a Sra. Kátia pudesse, primeiramente, conhecer a histórica igreja e também acompanhar o resultado das obras de restauração que nela foram executadas com recursos do Governo Federal. Em conversa com ela, o pároco cobrou diretamente os recursos para a segunda fase da restauração, que consiste na recuperação dos ricos elementos artísticos da igreja, expondo as necessidades que o levaram a fechar a dita igreja e a mantê-la fechada por todo esse tempo, até como forma de cobrar atitude das autoridades competentes, bem como do impacto social, cultural e econômico causado por tal situação, ainda que fosse ela muito necessária. Diante disso, a presidente se comprometeu pessoalmente a assegurar recursos para a próxima fase e, consequente, conclusão final das obras de restauro do Santuário de Nossa Senhora da Conceição. A metodologia, segundo ela, a ser empregada nessa fase permitiria a abertura do templo para que a comunidade e os interessados pudessem acompanhar todo o processo e os resultados obtidos, razão pela qual concordaram o pároco e a presidente do IPHAN, em assim fazê-lo. Tão logo fosse iniciada efetivamente a segunda fase das obras, depois da liberação do recurso para tal fim, a igreja seria de bom grado reaberta, sob responsabilidade de segurança do IPHAN, para que, como dito acima, os interessados pudessem acompanhar o desenrolar do processo de restauro; até que isso acontecesse permaneceria fechada. Essa reabertura, conforme os trabalhos permitissem, teria como objetivo promover a consciência e a educação patrimonial em toda a comunidade e nos visitantes, os quais poderiam acompanhar in loco os processos minuciosos e extremamente técnicos realizados para recuperar e restaurar tão preciosos bens, e a ela nem a Paróquia nem o pároco em nada se opunham, ao contrário, concordavam e incentivavam.
Cerimônia de entrega da 1ª fase das obras
Em 18 de agosto do mesmo ano, em data marcada pelo IPHAN, ocorreu dentro do Santuário, a cerimônia oficial de entrega da primeira etapa da restauração da mesma igreja.
A cerimônia civil contou com a presença da presidente do IPHAN, Kátia Bogéa, do arcebispo de Mariana, Dom Geraldo Lyrio Rocha, do pároco, Côn. Luiz Carneiro, da superintendente do IPHAN-MG, Célia Corsino, do chefe do Escritório do IPHAN em Ouro Preto, André Macieira, do prefeito municipal, Júlio Pimenta, e de outras autoridades, bem como de populares, que encheram a nave da igreja Matriz. Em seus pronunciamentos, falaram a Sra. Kátia, o arcebispo Dom Geraldo, o prefeito e o pároco, ressaltando a importância e o contexto histórico da igreja Matriz de Antônio Dias. Tanto o pároco quanto o arcebispo ressaltaram que as funções religiosas só serão retomadas dentro do Santuário ao final das obras, contudo a partir do início delas as portas do templo estarão abertas para a população acompanhar o seu andamento e o desenrolar dos processos nelas empregados.
Após a cerimonia de entrega, as pessoas que desejaram permaneceram no interior do Santuário, onde o chefe do Escritório do IPHAN em Ouro Preto, André Macieira, apresentou os resultados da primeira fase das obras de restauração, com fotos e explicações de tudo o que foi feito, e respondeu às perguntas que lhe foram dirigidas por parte dos populares.
Segunda fase das obras, restauração dos elementos artísticos
Em 28 de janeiro de 2019 foi assinada a ordem de serviço e imediatamente teve seu início efetivo a segunda fase da restauração do Santuário, na qual foram contemplados seus elementos artísticos, sendo contratada a empresa Anima Conservação, Restauração e Arte Ltda. Essa fase tem revelado muitas surpresas escondidas sob grossas camadas de tinta e cera de abelha e anos de intervenções desastrosas e sucessivas. Merecem destaque: O resgate do douramento original do teto da capela-mor, do dossel e dos anjos do retábulo-mor e dos anjos do arco-cruzeiro e a recuperação da policromia do mesmo altar-mor, tornando-o o mais próximo possível do seu original. Todos os cantos da igreja foram minuciosamente estudados, em busca das características mais próximas à originalidade do templo, tudo isso com a igreja aberta ao público, cujo acesso se permitia nos horários de trabalho da empresa responsável.
Há que se fazer uma registro especial também sobre o empenho e o esforço desmedido do Escritório Técnico do IPHAN em Ouro Preto, através do seu chefe, André Henrique Macieira de Souza, e da empresa vencedora da licitação, por meio do seu representante Gilson Felipe de Souza, junto ao pároco, à Paróquia Nossa Senhora da Conceição e ao Museu Aleijadinho no sentido de conduzir todo o processo de restauro com muita clareza, responsabilidade e cordialidade, na busca constante de recuperar o máximo possível dos ricos elementos artísticos desse templo barroco de importância tão singular para a história do Brasil.
Semana do Aleijadinho 2019
Como em todos os anos, desde 1968, a Paróquia Nossa Senhora da Conceição e o Museu Aleijadinho promoveram no mês de novembro a Semana do Aleijadinho. Em 2019, o tema escolhido para ser abordado em tal evento foi: “A preservação do patrimônio histórico e as manifestações culturais na Paróquia Nossa Senhora da Conceição em Ouro Preto”. Dentro da programação prevista, realizaram-se palestras, exposições e outros eventos com o intuito de demonstrar o rico patrimônio cultural da dita Paróquia e informar a comunidade sobre as ações que são tomadas pela mesma para protegê-lo e preservá-lo, com ênfase no trabalho de restauração do Santuário.
Saliente-se, entretanto, que a restauração da igreja Matriz não é a única ação de prevenção e conservação realizada pela Paróquia, cuja administração procura no seu dia-a-dia sanar todas as dificuldades surgidas e conservar todos os seus bens móveis e imóveis, muitas vezes com recursos próprios.
Já na abertura do evento, que ocorreu dentro do Santuário, a palestrante, Deise Lustosa, profissional da empresa responsável pela condução das obras da segunda fase da restauração da igreja, explicou aos presentes os processos empregados e apresentou os primeiros resultados do trabalho de restauro, o qual revelou as cores originais da Matriz, com muito douramento e uma pigmentação característica do período em que as obras foram feitas. Essas cores originais, porém, estavam escondidas debaixo de sucessivas intervenções posteriores, que descaracterizaram a beleza da igreja, mas que agora vão sendo minuciosamente recuperadas, para trazer o máximo de originalidade possível a ela. Em sua fala, a Sra. Deise, afirmou que pelo menos quatro gerações de pessoas se passaram sem conhecer toda a beleza e riqueza da Matriz de Antônio Dias.
A programação contou também com visitas guiadas dentro do Santuário, tendo como público alvo alunos da rede de ensino de Ouro Preto e universitários da Universidade de Campinas (Unicamp), que também se fizeram presentes a esse trabalho de incentivo à cultura, às artes e à preservação, isto é, trabalho de educação patrimonial.
Conclusão
Assim transcorreu todo o processo e as obras de restauração da Igreja Matriz e Santuário Arquidiocesano de Nossa Senhora da Conceição, na cidade de Ouro Preto – MG, desde a tomada de conhecimento da precariedade da situação estrutural da igreja, sobretudo do telhado, por parte da Paróquia, passando pelas comunicações, articulações e encaminhamentos que foram feitos diante de tal situação junto às autoridades religiosas e civis, até a efetiva realização das obras, dividas em duas etapas: a primeira, estrutural, visando garantir a estabilidade e a segunda, artística, cujo objetivo foi o restauro de todos os elementos artísticos, até o mês de janeiro de 2020, quando o arcebispo de Mariana, Dom Airton José dos Santos, acolhendo renúncia do então pároco de Nossa Senhora da Conceição, Cônego Luiz Carlos Cesar Ferreira Carneiro, o transferiu e nomeou como pároco de outra Paróquia, e designará para a Paróquia Nossa Senhora da Conceição outro pároco, que virá a assumi-la em tempo oportuno, determinado pelo mesmo arcebispo, dando sequência os trabalhos, durante o tempo que ainda falta para a entrega definitiva do Santuário de Nossa Senhora da Conceição completamente restaurado.
Por fim, é bom que conste que a administração paroquial de 2005 a 2019/2020 tem plena consciência do dever cumprido face a tão grande empreendimento, mesmo diante de tantas incompreensões e reações adversas de pessoas e grupos mal-intencionados, o que de modo algum arrefeceu o ânimo e a determinação do pároco, Côn. Luiz Carneiro, e de toda a equipe da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, do Museu Aleijadinho, da Arquidiocese de Mariana e do IPHAN; aqui destacando mais uma vez a dedicação do Escritório Técnico do IPHAN em Ouro Preto, na pessoa do seu chefe, o arquiteto André Henrique Macieira de Souza, ao qual fazemos menção justa e especial, para o desenrolar de todo o trabalho descrito no presente artigo.
Anexo
Correspondência enviada pelo chefe do Escritório Técnico do IPHAN em Ouro Preto, André Henrique Macieira de Souza, em 07 de janeiro de 2020.
Cônego Luiz,
Diante da notícia da transferência do senhor, venho manifestar meu agradecimento pessoal e enquanto responsável pela unidade local do IPHAN.
Quando assumi o Escritório Técnico do IPHAN, em fevereiro de 2015, a primeira etapa das obras de restauração da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias ainda estava em fase inicial, com a instalação do canteiro de obras e proteção dos elementos artísticos. O desafio era grande, principalmente levando em consideração a complexidade do bem cultural e as expectativas da comunidade, ainda receosa em relação às restrições e limitações próprias de obras dessa natureza. O zelo, o apoio e a compreensão do senhor para com o monumento e para com o Escritório Técnico foram fundamentais, para não dizer decisivos, para os bons resultados que alcançamos.
Devo lembrar ainda que enfrentamos muitos contratempos, atravessamos uma fase de contingenciamento, aguardamos a conclusão dos projetos e todos os trâmites licitatórios para, finalmente, em janeiro de 2019, iniciarmos a segunda etapa! E esta já completa um ano de execução. Mais uma vez, a paciência, a persistência e a parceria do senhor foram fundamentais.
Por tudo isso, agradeço. Agradeço muito. E continuo contando com o senhor. Ainda temos muito trabalho pela frente. E muitos frutos a colher das sementes que o senhor, com muito carinho, ajudou a plantar.
Grande abraço e os melhores votos possíveis,
André Macieira
Chefe do Escritório Técnico do IPHAN em Ouro Preto